Por Christoph Schlee
Desde Outubro de 2008, os moradores da pequena vila de Quatinga Velho podem contar com o pagamento de uma renda básica de cidadania. São 30 Reais por mês pagos a todos os membros desta comunidade que queiram recebê-la. Neste mês (Julho 2010) 77 pessoas irão receber uma renda básica incondicional, sem qualquer discriminação ou burocracia.
O projeto piloto realizada por uma ONG, sem dinheiro do governo, sem impostos, deduções ou doações de empresas – é financiado apenas por contribuições voluntárias de pessoas que apóiam o projeto - não apenas do Brasil, mas do mundo inteiro. Pessoas que acreditam na RBI, e estão tornando-a possível hoje. Porque é verdade, ela funciona. Todo o dinheiro doado vai direto para as mãos das pessoas, porque os custos operacionais da ONG são pagos por outra fonte.
É inegável a responsabilidade do Estado, mas não podemos esperar pelo governo para realizar a RBI. É óbvio que 77 pessoas - em comparação a 200 milhões de brasileiros – é um número pequeno. Mas é um primeiro passo real. A idéia é demonstrar como a RBI funciona na realidade e não meramente polemizar ou escrever artigos em favor da renda básica incondicional.
Se você visitar Quatinga Velho poderá ver muito rápido que a RBC é um suporte eficaz para as pessoas, mudando sua vida real: primeiramente você verá de imediato a diferença nutricional. Além disso, as pessoas começam a iniciar seus próprios projetos, sem qualquer prescrição por parte do Estado: Plantio de mandioca, criação de galinhas, reconstrução de suas casas e mesmo comprar um computador pessoal. É incrível ver que em apenas dois anos a situação da saúde dos filhos mudou completamente.
Muitas pessoas em Quatinga Velho não perfazem as condições de receber o Bolsa Família, programa do governo. A burocracia e as condicionalidades criam um grande obstáculo para as pessoas, que ainda tem problemas com leitura e escrita. Se eles comparam os dois, Bolsa Família e Renda Básica Incondicional, as pessoas usam apenas uma frase: "Nós preferimos a Renda Básica, porque é muito mais simples de se receber." Um argumento que convence mais do que muitas explicações teóricas.
Isso é o quê esta pequena experiência pioneira, barata e altamente replicável mostrou: não é só dinheiro, mas a forma respeitosa de transferência que faz a diferença para estratégias de bem-estar social. O acesso ao capital material, ao desenvolvimento humano e social é um direito humano, e a renda básica incondicional é o instrumento para a sua realização.
Nesta experiência, o crescimento sustentável necessita de uma estratégia passo a passo. Os objetivos e os meios têm que ser desenvolvido especialmente por iniciativas da sociedade civil, com a sua capacidade de inovação, o seu conhecimento para as necessidades básicas e as suas possibilidades de multiplicação. Sabemos que, Renda Básica tem de ser estabelecida pelo Estado - mas os políticos têm de levar em consideração as experiências de projetos concretos, não apenas os estudos teóricos.
Por isso, começamos a criar uma rede de núcleos experimentais interligados, espalhadas por diferentes lugares do mundo, combinando o intercâmbio voluntário, fonte de financiamento e conhecimento, com um simples propósito: colocar em prática a RBC. Para ter sucesso, foram considerados os três aspectos da vida social: economia, política e desenvolvimento cultural. A forte cooperação entre os cientistas, financiadores e empreendedores sociais é capaz de estabelecer um novo contrato social.
Mesmo que pareca ser utópico, Quatinga Velho faz parte de uma nova rede de solidariedade, baseada na renda básica incondicional - em parceria com Kölner Iniciativa Grundeinkommen, Alemanha; GLS Bank, Alemanha; Basel Institute of Commons and Economics, da Suíça, e TVONG. Vamos estabelecer o conceito dentro da sociedade civil, para convencer os governos a cumprir sua finalidade - não só com argumentos, mas com os exemplos de projetos-piloto e melhores práticas. Temos certeza de que muitos membros da BIEN vão nos apoiar e juntar-se a nova rede. Mais informações: www.rendabasicadecidadania.org ou www.recivitas.org.br
Bruna A. Pereira e Marcus Vinicius Brancaglione, são professores do Instituto de Administração Para o Terceiro Setor Luiz Carlos Merege e coordenadores do projeto-piloto RBC Quatinga Velho. E escreveram um livro sobre o projeto, acesse www.recivitas.org.br ou recivitas@recivitas.org.br. Baixe o e-book e faça sua contribuição!
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